A cidade de Piranguinho, terra pacata, de gente boa e, pelo visto, de cargos muito bem distribuídos — entre os de sempre, claro.
Eis que o jornal O Aperitivo, comprometido com a verdade, com a população e com o bom jornalismo, tentou um simples gesto democrático: obter informações sobre a Rádio Comunitária Piranguinho e outros assuntos — sim, aquela que deveria dar voz à comunidade toda, mas que mais parece tocar apenas para o mesmo grupo seleto, como uma vitrola emperrada no disco da panelinha.
O prefeito, com seu discurso polido e respostas políticas que não dizem coisa alguma, chegou a nos prometer que em breve teríamos novidades, reuniões e afins. Afinal, a rádio era para todos, não? O problema é que “em breve” virou um eco que só se ouve no vazio institucional, pois a rádio já está no ar — e nada de vozes novas, nada de comunidade, apenas o mesmo clube privado de sempre.
Para tentar entender a situação, entramos em contato com o vereador Ronaldo Benedito Caetano, mais conhecido como Ronaldinho, que ocupa a importante função de Agente de Epidemiologia no município. Seria ele, portanto, alguém com profundo conhecimento sobre saúde pública. Mas, como já é tradição, enrolou mais do que band-aid em perna quebrada. A conversa seguiu o roteiro de sempre: esquiva, promessas vagas, e uma pressa súbita para “ver isso depois”. Talvez estivesse ocupado demais correndo atrás dos ratos — ou fugindo das perguntas.
Enquanto isso, a cidade segue seu curso: ratos andando livremente, doenças à espreita, e um agente epidemiológico que só parece ver os problemas com lupa seletiva. Afinal, saúde pública deve ser prioridade, mas só quando dá ibope. Já para resolver, melhor passar pro próximo da fila — se for da panelinha, claro. longe da responsabilidade, sem contar com outras doenças como dengue e etc.
📜 A Constituição Federal garante:
Art. 5º, IX: "É livre a expressão da atividade de comunicação, independentemente de censura."
Art. 5º, XXXIII: "Todos têm direito de receber dos órgãos públicos informações de interesse coletivo."
Art. 37: "A administração pública deve seguir os princípios da legalidade, moralidade e eficiência."
Já a Lei 9.612/98, que rege as rádios comunitárias, exige que elas sejam espaço de expressão da comunidade — e não um microfone exclusivo da “turma da prefeitura”.
Ao contrário do que muitos pensam, o Jornal O Aperitivo não se cala. Nunca nos calamos. Sempre estivemos de olho. Quem achava que o tempo nos calaria, se enganou.
Como se já não bastasse nenhuma resposta sobre a rádio comunitária e o silêncio conveniente do vereador-agente, o que se vê em Piranguinho é um cenário que mais parece enredo de comédia trágica do serviço público: a palavra dada só vale para os "aspones" — os amigos de gabinete, de churrasco e de foto de campanha.
A população? Essa segue esperando… Empregos? Empresas? Desenvolvimento? Tudo isso parece estar trancado em alguma gaveta junto com as promessas não cumpridas — ou então guardado no fundo de alguma conversa de grupo fechado.
E quanto à saúde pública, aquela que deveria ser sagrada, a pergunta que ecoa é: será que não temos cacique demais para índio de menos? Tem profissional sobrecarregado trabalhando por dois ou três — o que mostra comprometimento —, mas também há o "servidor seletivo", que atua melhor com o celular na mão e a porta do consultório fechada, como se o atendimento fosse um favor. Atendimento, aliás, que deveria ser universal, acessível e contínuo, conforme determina a Lei nº 8.080/1990 (Lei Orgânica da Saúde), que estabelece em seu art. 7º o princípio da “integralidade da assistência”.
Será que essas práticas se enquadram nos princípios da eficiência e moralidade do art. 37 da Constituição Federal? Ou será que basta ser amigo de copo para ser blindado de qualquer responsabilidade?
Não bastasse isso, visitas domiciliares — obrigatórias no acompanhamento de pacientes crônicos — parecem ter entrado em hibernação. Há relato de casa sem visita há um ano e oito meses, inclusive com paciente com hipertensão crônica, em claro descumprimento ao Programa de Saúde da Família (PSF) e às normas do Ministério da Saúde. Mas vai ver a agenda da equipe de saúde está muito ocupada... ou só indo em algumas casas.
E os pedidos de mudança de atendimento, de profissional, de agente? Encaminhado, mas nunca cumprido. A razão? Ainda desconhecida. Talvez porque venha de quem não está na lista dos “chegados”. Talvez porque pedir respeito virou afronta em tempos de administração blindada.
E quando a gente entra na Prefeitura, a cena é digna de novela tragicômica: uns fazem sinal da cruz, outros riem com desdém. E quem não é do grupo certo? Que espere. Que cale. Que finja não ver a desigualdade, o desprezo, o preconceito religioso que permeia os corredores do poder.
Mas o Jornal O Aperitivo não vai se calar. Não temos medo de rato — nem de rato grande, nem de rato de gabinete. Vamos continuar mostrando o que precisa ser mostrado, ouvindo quem precisa ser ouvido, e expondo o que querem esconder.
O que esquecem — ou fingem esquecer — é que o povo observa. E a Constituição assegura que todos têm o direito à informação (art. 5º, XXXIII), à saúde (art. 196), e à igualdade de acesso aos serviços públicos (art. 37, caput e inciso I).
Portanto, fica o lembrete: o poder emana do povo, não dos copos brindados entre amigos. E se por enquanto tudo parece muito bem ensaiado, a plateia está acordada. E o Jornal O Aperitivo segue com a luz acesa no palco, registrando cada ato.
Como diz o ditado:
👉 "Forno que é aberto demais, o bolo sai murcho."
E o bolo da cidade está há tempos sem fermento, servindo apenas os mesmos.
Enquanto isso, o povo observa. E nós escrevemos. Porque jornalismo não é parte de panelinha. Jornalismo serve ao povo.
Acabou o milho, acabou a pipoca
- Nica montanha