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Entrevista com Genoveva Carvalho Gonçalves

Genoveva Carvalho Gonçalves

Nascimento: 18/03/1940

Nascida em Itajubá, por consequência por que no município não tinha hospital, mas morei minha vida toda em Piranguinho.

Na infância morei 17 anos em Piranguinho, depois fui morar no Mato Dentro, de lá casei e fui morar em Del Velho na cidade de Brasópolis aonde fiquei 10 anos, depois voltei para Piranguinho e estou até hoje por mais de 50 anos.

Tenho uma filha Isabela de Cristina, casada com um rapaz de campo grande, duas netas, quatro irmãos, sendo que um deles faleceu e era desembargador. Esse meu irmão foi o primeiro desembargador de Piranguinho.

Minha família os Machados muito colaboraram com o crescimento de Piranguinho, inclusive doando terras onde ainda hoje se localizam o cemitério, a cadeia pública e a escola que hoje leva o nome Sebastião Pereira Machado.

Palavras da Sr.ª Genoveva: 

Genoveva e o CISMAS em Piranguinho e Região

Em Piranguinho não tinha nada, uma farmácia apenas, isso quando não estava fechada. E as pessoas precisavam de atendimento, pelo menos para a aplicação de injeções.

Na época, vendo aquela situação, conversei com o prefeito Sr. Gonzaga, propondo um serviço de saúde. Então começamos a fazer esses atendimentos na casa paroquial. Vale lembrar que nessa época a estrutura era fraca, não tínhamos equipamentos como os de hoje. Tanto é que comecei a trabalhar na casa paroquial com uma mesinha de 3 pernas (a mesa ficava no canto da coluna para parar em pé), o médico atendia em uma salinha e eu ficava fora fazendo as fichas, atendendo e vistoriando tudo.

Os pacientes vinham mais cedo para conversar com a gente, sendo que as vezes o médico não aparecia e os pacientes ficavam felizes de ficar apenas conversando, porque muito das vezes essas pessoas passavam por várias situações ruins e precisavam de um ombro amigo. Sendo muito gratificante para mim, sempre que dava eu levava para os pacientes algo para comer, e aproveitando dessa situação ajudava na alimentação dessas pessoas.
Na época ganhava 35 reais por mês, o que naquele tempo não era nem metade de um salário mínimo.

Quando Regis entrou na política conversamos sobre a possibilidade de se trabalhar melhor com a área da saúde de Piranguinho. No entanto quando ele viu o salário que eu recebia, mesmo eu não ligando para um aumento, Regis fez questão de me estabilizar, pegando meus documentos. Regis entrou com Euclides Cintra, conseguindo assim minha nomeação pelo estado. Com isso começamos a trabalhar junto com o estado e a prefeitura auxiliava no prédio com materiais.

Chegava a pedir para Itajubá remédios e amostras grátis, não podendo esquecer do Dr. Zambrano e Dr. Mauad que me ajudaram muito nessas situações. Então eu pegava a caminhonete da prefeitura (estava aos pedaços, mas dava pra ajudar), e logo depois pegava esses remédios ganhos e ao chegar no postinho separava todos e também fazia as injeções.

Depois de 6 meses de serviço montei o “Serviço de Imunização”, sendo que nunca teve esse serviço em Piranguinho, somente em Itajubá, que por sua vez não vinha fazer em Piranguinho. Como consequência ficava muita gente sem poder vacinar.

A regional começou a ver o nosso serviço e como precisavam treinar as auxiliares dos municípios tanto de Pouso Alegre quanto da região, fui chamada para ser monitora dessas funcionárias.
Nesse tempo meu, trabalhando na saúde tive mais de 52 mil aplicações de BCG’s, sendo que 70% foram em crianças (mais difícil de aplicar pois mexiam muito). Em Brasópolis devo ter aplicado injeções em mais ou menos 9 mil pessoas. E depois disso comecei a fazer rodizio nos municípios para estar junto com os profissionais de saúde. Peguei também muitos casos em que outras pessoas ficavam com receio de pegar, como pacientes com Hanseníase e tuberculose. Trabalhei muito com o Dr. Edgar, um dos médicos da região.

A situação chegou um certo ponto que o Sr. Celso mudou o posto, para perto da Praça Matriz da cidade de Piranguinho. E compramos o Lote, onde é a Prefeitura hoje e Regis entrou e começou a construir a prefeitura e logo depois Celso terminou com a construção. Quando terminou o espaço chegamos a ter até 3 dentistas trabalhando com a gente, ginecologista e com isso fomos aumentando o serviço.

Como foi ficando pequeno, o Celso e eu fomos para Belo Horizonte e conseguimos dinheiro para construir um lugar que comportar-se os trabalhos que seriam feitos. O lugar não era bom, mas era o que tinha para a época. Quando fomos para lá, até o laboratório estava montado. Foi quando a administração do prefeito Adoniram acabou com o laboratório. O que foi uma pena, porque de 10 exames que o SUS pagava com o laboratório, dava para fazer 50 exames. Porque na época quando tinha um reagente eu conseguia fazer exame em 10 pessoas.

Mais tarde fizemos uma reunião na AMASP, onde juntou todos os prefeitos da época. Tive a ideia de construir um consórcio, para ajudar o povo a ter seus exames feitos pagando pouco. Com isso levamos um ano e meio negociando. Naquele tempo o Prefeito era o Saulo Germiniani, que se interessou pelo projeto e com isso conseguimos fundar o CISMAS. Nessa reunião da fundação do CISMAS tive a honra de ser chamada para ser secretária executiva, mesmo com duas funções, consegui dar conta de dois trabalhos. (Tem 24 anos da criação do CISMAS).

Para fazer o registro na época foi um sufoco. Lembro que fui de ônibus até Belo horizonte e quando cheguei pra fazer o registro, paguei o documento do meu bolso. Chegando em Itajubá, sentei no banco da praça e terminei de preencher os documentos. Logo depois consegui falar com o secretario representante da situação e conseguimos o cheque para dar início a esse projeto. Ao chegar em Piranguinho, me falaram que eu não tinha conseguido, até porque cheguei muito cedo. Mas obtive essa vitória.
Logo depois aluguei duas casas para o CISMAS, um para a secretária e outro para as reuniões. Ficamos lá entre 8 à 10 meses. Depois conseguimos alugar outra casa, onde ficamos 3 anos.

CISMAS antigamente

*Em Piranguinho tinha 65 exames de ultrassom e quando saí deixei 750.

Trabalhávamos com o CISMAS da seguinte maneira, cada lugar tinha uma meta, tanto o SUS quanto o estado. No SUS a meta era, se tinha 8 mil habitantes a verba vinha para 8 mil habitantes. E a meta CISMAS era contribuir, onde cada município contribuía com 1% do FPM, no entanto cada cidade dependia de pontuação, de acordo com o tamanho da cidade. A questão é que os municípios se juntavam e faziam o gerenciamento dos exames. Um exemplo é o exame de ressonância magnética, no regional para todos os municípios tinham 3 exames, com isso eu licitava mais exames. Além disso tinha a “carona amiga”, feita pelo consórcio, onde todos os municípios faziam uma lista para o paciente fazer a viagem para ser feito um exame. Daí eu exigia um acompanhante para não ter problema no caminho. As vezes acontecia do prefeito estar me ligando pedindo para reconduzir um paciente de lugar, porque aparecia um caso com maior urgência, sendo que as 4 da manhã o motorista já estava de prontidão esperando os pacientes para serem conduzidos até a cidade que seria feito os exames.

Foi comprado uma casa para o CISMAS, onde pagamos à vista com o dinheiro que juntamos, juntamente com o carro, ambulância, laboratório montado e aparelho de cardiograma para todos os municípios compostos pelo programa.

Na época que criamos o CISMAS a política era honesta, não era igual os dias atuais. Que muitos prometem e poucos cumprem. Até mesmo no meu tempo de vereadora, os meus documentos sempre estavam em dia, e se achar algo eu respondo por eles, sempre muito corretos.

 

A maior decepção da sua vida?

Foi quando, fazendo todo esse trabalho e ao conseguir uma verba para fazer coletas para exames de câncer de próstata, câncer de mama, oftalmologia e etc (isso tudo estava largado e não tinha quem fizesse esses exames), vi que o dinheiro que estava sento destinado para esse uso, infelizmente foi interferido pelo prefeito da época, João Mauro de Brasópolis. Esse dinheiro foi utilizado para comprar vans.

A partir desse momento, por não concordar com sua ideia, eu fui perseguida, até o momento que fui dispensada do meu trabalho, no dia 5 de novembro de 2005. No dia o prefeito me falou várias coisas e nesse momento eu disse para ele se retirar para poder arrumar as minhas coisas, e que eu não trabalharia aqui mais nenhum minuto. Na época João Mauro era o presidente dos consórcios municipais.

Disse para ele “Você não é prefeito, você está prefeito” ... “Agora eu sou profissional e continuarei sendo profissional até os últimos momentos da minha vida, porque eu conquistei”.

Qual foi sua maior alegria?

Minha maior felicidade era ver a alegria das pessoas do município ao vir falar comigo. Vendo assim o reconhecimento do meu trabalho.
Quando começamos a trabalhar com o CISMAS a intenção era ajudar os municípios. Cheguei a fazer o controle de todos os municípios, para poder ajudar todos, não só Piranguinho como todos da região. 

O que é o CISMAS?

O Consórcio Intermunicipal de Saúde dos Municípios da Microrregião do Alto Sapucaí (CISMAS), com sede em Itajubá (MG), foi criado em 18 de Janeiro de 1996 com o intuito de desenvolvimento da microrregião. O objetivo do CISMAS na promoção a saúde são as consultas e exames de média complexidade, laboratório microrregional de análise de água e transporte em saúde seguro e gratuito (SETS) para todos os usuários dos municípios consorciados.

Atualmente o CISMAS possui 15 municípios consorciados, com abrangência de uma população de aproximadamente 200.000 mil habitantes sendo eles: Brazópolis, Conceição das Pedras, Consolação, Delfim Moreira, Gonçalves, Itajubá, Maria da Fé, Marmelópolis, Paraisópolis, Pedralva, Piranguçu, Piranguinho, São José do Alegre, Sapucaí Mirim e Wenceslau Braz.

CISMAS atualmente

A família do Jornal o Aperitivo teve a honra de entrevistar a Sra. Genoveva Carvalho Gonçalves, uma das criadoras do CISMAS, uma mulher de muita importância, garra e força. 
Tendo a destreza e força de vontade ao construir  o CISMAS, em prol de uma melhor condição de saúde para o povo. 


Percebemos que a sua maior preocupação era a saúde precária da região, motivo esse que a fez lutar tanto. Não podendo esquecer que Sra. Genoveva foi varias vezes Vereadora e Presidente da Câmara Municipal de Piranguinho. 

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